Uma surpresa de Deus vinda dos confins do mundo
A primeira aparição pública do novo Papa, Francisco, fez-me
recordar uma exortação que São Francisco de Assis teria dirigido a um grupo de
franciscanos enviados em missão para o Médio Oriente: «Falai sempre de Cristo
e, se necessário, usai palavras». Deste modo, São Francisco queria sublinhar a
importância que as atitudes dos missionários têm no anúncio do Evangelho. As
primeiras palavras do Papa à multidão presente na Praça de São Pedro apontam
para elementos fundamentais da vida cristã. Mas, os gestos e as atitudes que as
acompanharam deram-lhes um selo de autenticidade que a todos comoveu. Ainda sob
o impacto da eleição, gostaria de salientar alguns gestos do novo Papa onde já
podemos antever caminhos de renovação da Igreja.
Em primeiro lugar, a escolha do nome. «Francisco» é todo um
programa de vida e de missão, de serviço e de proximidade. Do santo de Assis, o
cardeal Bergoglio já escolhera a via da simplicidade e da pobreza, de uma
Igreja humilde e próxima dos pobres. Francisco de Assis é também «o homem da
paz, o homem que ama e preserva a criação». No outro Francisco, o de Xavier e
jesuíta como ele, decerto encontra um testemunho apaixonado pela missão.
Depois da saudação inicial, familiar e íntima, «Irmãos e
irmãs, boa noite!», o Papa apresenta-se simplesmente como bispo de Roma. E
repete esta ideia várias vezes ao longo da sua alocução, usando a imagem do
caminho que juntos estão iniciando, o bispo de Roma e a igreja de Roma. Em
apenas duas frases, dá-nos uma grande lição de eclesiologia, onde o ministério
petrino é devolvido à sua fonte e à sua missão primeira: presidir a todas as
Igrejas na caridade. A menção especial à colaboração e ajuda do seu cardeal
vigário, presente ao seu lado, remete para a colegialidade episcopal como um
«caminho de fraternidade, de amor, de confiança» entre todos os membros da
Igreja.
Na sua primeira intervenção pública, o Papa Francisco não
esqueceu o seu antecessor, Bento XVI. Mas fê-lo de uma forma original. Em vez
de tecer considerações laudatórias – que seriam sinceras e apropriadas –
prefere rezar por ele. E assim, vemos o bispo de Roma e a multidão a recitar as
orações mais simples e populares, com profunda devoção, implorando a bênção de
Deus e a proteção de Nossa Senhora para o papa emérito.
Mas a grande surpresa ainda estava para vir. Antes de dar a
sua primeira bênção, o Papa Francisco pede um favor ao povo presente na praça:
«Antes de o bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me
abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu bispo». E,
inclina-se como um peregrino prestes a iniciar o caminho ou como uma criança
que pede a bênção ao pai e à mãe. Talvez nunca antes fora presenciado tal gesto
na Praça de São Pedro: uma multidão orante e em silêncio pedindo a bênção de
Deus para o seu pastor.
O amor dos católicos pelo Papa deve traduzir-se em gestos
que ajudem a aliviar o peso que está sobre os seus ombros. Em primeiro lugar, o
amor ao Papa exprime-se através da oração. Depois, deve ser visível no modo como
assumimos as nossas responsabilidades enquanto cristãos: procurando ser fiéis a
Cristo, levando uma vida mais simples e solidária, promovendo o diálogo dentro
e fora da Igreja, construindo comunidades cristãs acolhedoras e fraternas,
dando um lugar privilegiado aos pobres na nossa ação pastoral. No nome que
escolheu e nos gestos já conhecidos, o cardeal Bergoglio sugere-nos um caminho
de renovação pessoal e eclesial. Deste modo, sempre que assumimos as nossas
responsabilidades à luz da fé, estamos a contribuir para que, e citando o Papa
Francisco, «haja uma grande fraternidade» no mundo.
P. José Antunes da Silva, SVD
fonte: http://www.oconquistador.com
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